Desde 2021, o futebol brasileiro vive uma verdadeira revolução com a criação da Lei nº 14.193, conhecida como Lei da SAF (Sociedade Anônima do Futebol).
Acompanhar esse processo me fez perceber como clubes tradicionais, como Cruzeiro e Botafogo, deram um passo importante ao se tornarem empresas e abrirem as portas para investidores. Essa transformação trouxe gestões mais profissionais, transparência financeira e um novo olhar para o esporte.
Mas afinal, o que tudo isso significa para torcedores, gestores e investidores?
Foi essa pergunta que me motivou a iniciar esta série de artigos sobre SAFs. Aqui, quero compartilhar o que aprendi sobre o tema — explicando como funciona esse modelo, seus benefícios, desafios e exemplos reais de clubes que já vivem essa mudança.
O que é uma SAF
A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é, basicamente, uma forma jurídica criada para profissionalizar a gestão dos clubes brasileiros.
Ela separa a parte social da parte empresarial, o que significa que o patrimônio do clube fica protegido, e as decisões passam a seguir um modelo de administração corporativa, transparente e responsável.
Essa estrutura foi instituída pela Lei nº 14.193 de 6 de agosto de 2021, e na minha visão, ela surgiu como uma resposta necessária a um problema histórico do nosso futebol: a má gestão e o endividamento crônico de muitos clubes.
Em resumo, o principal objetivo da SAF é resgatar clubes em dificuldades financeiras por meio da entrada de novos investimentos e um modelo de governança empresarial.
Por que considero a SAF um avanço
O que mais me chama atenção na SAF é a sua capacidade de atrair recursos financeiros.
No entanto, o dinheiro por si só não resolve tudo. O que realmente muda o jogo é a profissionalização da gestão, a separação das dívidas antigas e o comprometimento com resultados.
Outros benefícios da SAF:
Tributação mais vantajosa
A SAF oferece um regime tributário bem mais leve e simples:
- Primeiros 5 anos: pagamento de 5% da receita bruta mensal, com isenção sobre transferências de atletas;
- A partir do 6º ano: a alíquota cai para 4% da receita bruta, incluindo a venda de jogadores.
Além de aliviar o peso fiscal, isso incentiva o clube a pensar de forma empresarial e sustentável.
Redução e refinanciamento de dívidas
Outro benefício importante é a possibilidade de refinanciar dívidas antigas junto ao governo federal.
Na prática, isso significa dar um fôlego enorme às finanças e permitir um recomeço mais saudável.
Investimentos e Recursos Financeiros
Os investimentos iniciais e aportes adicionais feitos pelos investidores são definidos no contrato da SAF, podendo incluir:
- Pagamento de dívidas do clube;
- Investimento em centros de treinamento e infraestrutura;
- Reformas em estádios;
- Contratações estratégicas.
Um exemplo que gosto sempre de citar é o do Botafogo.
Em 2022, o investidor John Textor firmou um acordo para investir R$ 350 milhões, divididos assim:
- 2022 – R$ 100 milhões
- 2023 – R$ 102,2 milhões
- 2024 – R$ 113,9 milhões
- 2025 – R$ 50 milhões
📄 Fonte: ESPN Brasil
Esse exemplo ilustra bem como funciona o processo de investimento em uma SAF e o impacto financeiro que pode trazer.
Profissionalização da Gestão
Antes da SAF, os clubes eram administrados por diretores eleitos entre os sócios, muitas vezes sem remuneração e sem obrigação de resultados concretos.
Agora, com a estrutura empresarial, os clubes são geridos por profissionais especializados — pessoas com formação e experiência em finanças, marketing, direito e gestão esportiva.
Na minha opinião, essa é uma das maiores conquistas do modelo.
Quando o futebol começa a ser tratado como negócio, e não apenas como paixão, os resultados aparecem.
A transparência aumenta, os patrocinadores voltam a confiar e os investidores enxergam valor de longo prazo.
O papel do marketing nas SAFs
Eu diria que é a vez do marketing no futebol brasileiro, pois é a área que mais ganha relevância dentro do modelo SAF.
Antes, o marketing nos clubes era visto apenas como apoio — responsável por campanhas pontuais, venda de camisas e ações com torcedores.
Agora, com a transformação em empresa, o marketing passa a ser um núcleo estratégico de geração de receita e fortalecimento da marca.
Na minha visão, o marketing é o setor que dá voz à nova identidade da SAF, conectando o investidor ao torcedor, trabalhando na reconstrução da marca do clube, criando novas experiências de consumo e explorando cada vez mais as oportunidades comerciais que surgem.
Entre as principais funções do marketing nas SAFs estão:
- Gestão da marca e posicionamento: reforçar os valores e o propósito do clube diante do mercado e da torcida.
- Expansão comercial: ampliar o portfólio de patrocinadores e produtos licenciados.
- Engajamento digital: usar redes sociais, plataformas de streaming e dados de torcedores para gerar novas receitas.
- Relacionamento com investidores e torcedores: manter a confiança e a credibilidade através de comunicação transparente.
E é assim que vejo o marketing hoje como uma estratégia bem estruturada, deixando de ser apenas um suporte para se tornar uma peça fundamental no negócio, influenciando diretamente as finanças, a imagem e até o desempenho esportivo do clube.
O impacto na competitividade
Além da parte financeira, há um ganho direto no desempenho esportivo.
Com mais recursos e melhor estrutura, os clubes conseguem investir em centros de treinamento modernos, estabelecer metas realistas e manter equilíbrio entre finanças e performance.
Eu vejo isso como uma sequência positiva, pois quanto melhor for a gestão, mais competitivo o clube se torna, o que atrai novos investimentos — e assim o círculo positivo continua.
Os desafios que ainda vejo no modelo
Apesar de tudo, a SAF não é uma solução mágica.
A experiência recente mostra que existem desafios sérios, como:
- Manter a identidade e a cultura do clube, mesmo com a entrada de capital privado;
- Equilibrar a relação entre investidores e torcedores;
- Evitar dependência de resultados esportivos imediatos, que podem comprometer o projeto de longo prazo.
Casos como os de Botafogo e Vasco, que enfrentam atritos entre investidores e clubes, mostram que o sucesso da SAF depende tanto da governança quanto do capital.
É preciso transparência, diálogo e planejamento.
O cenário das SAFs no Brasil
Atualmente, o Brasil já conta com mais de 120 clubes organizados como SAF.
Entre os exemplos mais conhecidos estão:
- Cruzeiro, que conseguiu se reerguer rapidamente;
- Botafogo, que se tornou competitivo, mas ainda enfrenta desafios de gestão;
- Vasco, que infelizmente tem o seu projeto de SAF, sendo discutido na justiça contra a empresa 777 Partners.
Cada um desses casos reforça um ponto: a SAF funciona quando há gestão séria, profissional e visão de longo prazo.
Conclusão
A SAF representa uma oportunidade histórica de transformação no futebol brasileiro.
Ela permite que os clubes se tornem negócios sustentáveis, com governança, investimento e planejamento estratégico.
Mas também acredito que esse modelo exige maturidade — tanto dos gestores quanto dos torcedores.
É um caminho que mistura paixão e razão, e que pode finalmente colocar o nosso futebol em outro patamar, se for bem conduzido.
E você torcedor, o que pensa sobre a SAF?
Acredita que seu clube deveria seguir esse caminho? Deixe seu comentário — quero muito saber sua opinião!
✍️ Por Rafael Neves
Especialista em marketing e negócios, apaixonado por futebol e boas histórias corporativas.
📍 Instagram: @rafael.neves81


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